sábado, 11 de maio de 2013

A Poesia Medieval Portuguesa.



  • O Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa criada.Em meio á alguns assuntos caóticos em Portugal,envolvendo questões econômicas,políticas e culturais surge o Trovadorismo dentro do sistema Feudalismo,em que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados.Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.* 
  • Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la.
  • Além da nobreza (classe que pertenciam os suseranos) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda uma outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política.


Os poemas produzidos nessa época eram cantados e não declamados,como a maioria dos poetas que conhecemos.Os versos eram soltos com uma melodia,acompanhados por algum instrumento musical.
Os trovadores eram poetas que compunham a letra e a música das canções.Em geral uma pessoa que possuía uma cultura maior do que os outros; viviam na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra - , Jograis - cantores e tangedores ambulantes, geralmente de origem plebéia - e Segréis - trovadores profissionais, fidalgos desqualificados que iam de corte em corte, acompanhados por um jogral) Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de corda e sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
A poesia daquela época possui alguns gêneros dos quais abordaremos no nosso blog.Antes disso,apresentaremos á vocês a primeira canção poética da época.

A canção da Ribeirinha

(Esta cantiga de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Segundo consta, esta cantiga teria sido inspirada por D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, mulher muito cobiçada e que se tornou amante de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. )

"No mundo nom me sei parelha, / mentre me for' como me vai, / ca ja moiro por vos - e ai / mia senhor branca e vermelha, / queredes que vos retraia / quando vos eu vi em saia! / Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "

No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela).

"E, mia senhor, des aquel di' , ai! / me foi a mim muin mal, / e vós, filha de don Paai / Moniz, e ben vos semelha / d'aver eu por vós guarvaia, / pois eu, mia senhor, d'alfaia / nunca de vós ouve nem ei / valia d'ua correa".

E, minha senhora, desde aquele dia, ai / tudo me foi muito mal / e vós, filha de don Pai / Moniz, e bem vos parece / de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi / algo, mesmo que sem valor.

Cantigas de amor
Nesta poesia-música o eu-lirico é masculino e retrata um amor idealizado.Um amor que foge do "comum",já que na maioria das vezes o eu-lírico é inferior á sua amada e há essa divergência social.É uma cantiga desenvolvida em cortes e palacios.
Cantiga de Pero Garcia Burgalês:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi. 

Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.

Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer! 


Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer. 

Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m]. 

Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem; 

Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!


Cantigas de amigo
As cantigas de amigo apresentam eu-lirico feminino, embora o autor seja um homem.
Essa cantiga retrata a vida de uma mulher abandonada por seu amante.Embora esteja magoada e decepcionada,as suas mágoas nunca serão "cantadas" referindo-se diretamente ao seu amado.Desabafa ou com a natureza ou com suas amigas e famílias,etc.
Cantiga de Julião Bolseiro:
Mal me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça. 

Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.

Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.

Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça. 



-Gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil sem que pareça rude mas ao mesmo tempo demonstre na poesia algo importante; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.


Cantigas de Escárnio:É apresentado por palavras bem-humoradas e sutis,mas ao mesmo tempo completamente irônicas.

Ai, dona fea, fostes-vos queixar / que vos nunca louv' en [o] meu cantar; / mais ora quero fazer um cantar / en que vos loarei toda via; / e vedes como vos quero loar; / dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus me perdon, / pois avedes [a] tan gran coraçon / que vos eu loe, en esta razon / vos quero loar toda via; / e vedes qual será a loaçon / dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei / en meu trobar, pero muito trobei; / mais ora já un bon cantar farei, / en que vos loarei toda via; / e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia!

(Loarei: louvarei / Sandia: louca / Avedes tan gran coraçon: tendes tanto desejo / loaçon: louvor)

Cantigas de Maldizer

Neste tipo de cantiga é feita uma crítica pesada, com intensão de ofender a pessoa ridicularizada. Há o uso de palavras grosseiras (palavrões, inclusive) e cita-se o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se faz a sátira:

Maria Peres se mãefestou (confessou) / noutro dia, ca por pecador (pois pecadora) / se sentiu, e log' a Nostro Senhor / pormeteu, pelo mal em que andou, / que tevess' um clérig' a seu poder, (um clérigo em seu poder) / polos pecados que lhi faz fazer / o demo, com que x'ela sempr'andou. (O demônio, com quem sempre andou)

Mãefestou-se, ca (porque) diz que s'achou / pecador mui't,(muito pecadora) porém, rogador / foi log' a Deus, ca teve por melhor / de guardar a El ca o que a guardou / E mentre (enquanto) viva diz que quer teer / um clérigo, com que se defender / possa do demo, que sempre guardou

E pois (depois) que bem seus pecados catou / de sa mor' ouv (teve) ela gram pavor / e d'esmolnar ouv' ela gram sabor (teve grande prazer em esmolar) / E logo entom um clérico filhou (agarrou ) / e deu-lhe a cama em que sol jazer (sozinha dormia) / E diz que o terrá mentre (terá enquanto) viver / e esta fará; todo por Deus filhou. (E isso fará, pois tudo aceitou por Deus).

E pois que s'este preito ( pacto) começou, / antr'eles ambos ouve grand'amor. / Antr'el (entre) á sempr'o demo maior / atá que se Balteira confessou. / Mais pois que viu o clérigo caer, / antre'eles ambos ouv'i (teve nisso) a perder / o demo, dês que (desde que) s'ela confessou.

Trovadores famosos da época:João Soares Paiva, Paio Soares de Taveirós, dom Dinis (que deixou cerca de 140 cantigas líricas e satíricas), João Garcia de Guilhade e Martim Codax.


*Partes retiradas dos sites onde foi feita a pesquisa.

Referência bibliográfica:
http://www.mundovestibular.com.br/articles/9331/1/Trovadorismo/Paacutegina1.html
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/trovadorismo---poesia-cantigas-de-amor-de-amigo-e-de-escarnio-e-maldizer.htm





Postado por Carolina Hermanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário